Um Dia de Cão

Em 1975, um filme eletrizante e surpreendentemente humano explodiu nas telas: Um Dia de Cão, dirigido por Sidney Lumet — o mesmo gênio por trás de Doze Homens e uma Sentença — e estrelado por um Al Pacino em modo 110% intensidade. A ideia? Contar a história de um assalto a banco que dá tudo errado… mas de um jeito tão absurdo que só poderia ser baseado em fatos reais. E é!

A trama acompanha Sonny Wortzik, um ladrão completamente despreparado (mas com um coração enorme), que invade um banco no Brooklyn com um amigo igualmente perdido (John Cazale — o eterno Fredo de O Poderoso Chefão). O plano era simples: entrar, pegar o dinheiro e sair. Só que o cofre está praticamente vazio. A polícia aparece rápido demais. Em poucos minutos, a mídia invade o local, a rua vira um espetáculo e Sonny se transforma numa espécie de celebridade instantânea ao vivo na TV.

É aí que o filme deixa de ser apenas um thriller e se transforma num caos social, político e emocional. Pistolas, reféns e câmeras — tudo junto e misturado. Sonny não sabe se é criminoso, mártir ou protagonista de reality show. Em vez de gritar “ninguém se mexe!”, o cara começa a debater com a multidão e até distribuir pizza pros reféns. Quem disse que bandido não tem carisma?

E o motivo do assalto? Nada de ambição ou vilania de desenho animado. Sonny queria pagar a cirurgia de mudança de sexo de seu companheiro — algo ousadíssimo de se mostrar no cinema mainstream dos anos 70. O resultado? Uma história tão intensa quanto humana.

O reconhecimento veio rápido: o filme foi indicado a seis Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Al Pacino. Levou o prêmio de Melhor Roteiro Original, escrito por Frank Pierson, e ainda venceu o BAFTA de Melhor Edição, além de ser aclamado em Cannes e outros festivais. Hoje é considerado um dos maiores filmes já feitos sobre crime, mídia e moralidade.

Um Dia de Cão não precisa de efeitos especiais para prender o público: só uma situação real fora de controle — e um Al Pacino que transforma desespero em espetáculo.

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A Verdadeira História de John Wojtowicz

John Wojtowicz (1945–2006), nascido em Nova York, ficou conhecido mundialmente não por heroísmo ou fama tradicional, mas por protagonizar um dos assaltos a banco mais inusitados da história — aquele que inspirou o filme Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975). Bissexual, casou-se duas vezes: primeiro com Carmen Bifulco, com quem teve dois filhos, e depois com Elizabeth Eden, uma mulher transexual que conheceu em 1971 e por quem desenvolveu um forte vínculo emocional. Em 22 de agosto de 1972, decidido a financiar a cirurgia de mudança de sexo de Eden, ele organizou um assalto a uma agência do Chase Manhattan Bank, no Brooklyn, ao lado de Salvatore Naturile e Robert Westenberg. O plano rapidamente saiu do controle: sete funcionários foram feitos reféns por 14 horas, enquanto a polícia e a imprensa transformaram o caos em espetáculo ao vivo.
Wojtowicz foi preso, mas Naturile acabou morto pelo FBI nos momentos finais do caso. Condenado a 20 anos de prisão, cumpriu 14, sendo libertado em 1987. Com os 7.500 dólares recebidos pela venda dos direitos de sua história para o filme, ajudou a pagar a cirurgia de Eden. Infelizmente, ela morreu no mesmo ano, vítima de pneumonia associada à Aids. Wojtowicz permaneceu uma figura controversa até sua morte em 2006 — lembrado ao mesmo tempo como criminoso, anti-herói e símbolo de uma história de amor desesperada.

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