O Bazar dos Sonhos Ruins – Resenha #01

Por Caco de Paula

O Bazar dos Sonhos Ruins – Stephen King

Mais uma vez, o Mestre do Terror, Stephen King, nos convida para uma viagem ao campo que fascina e estiga todo ser humano: Seu próprio medo!
Publicado pela primeira vez em 03 de novembro de 2015, O Bazar dos Sonhos Ruins é uma coletânea de contos (alguns inéditos outros não) que desafiam o leitor passear por diversos lugares, sobretudo o Maine, sempre atento aos acontecimentos imprevistos, já tradicionais nas obras do autor. Dividido em vinte contos, não interligados entre si, proporciona uma montanha russa de emoções a quem se propõe a ler. Claro, que na minha opinião, nem todos os contos são “incríveis”, porém, a maioria vai agradar aos fãs de suspense e ficção/fantasia. Vou tentar explanar um pouco de cada conto, sem spoilers ou aprofundamento, mais com o intuito de estigar a leitura do que, propriamente, ‘vender o livro’ para quem estiver interessado em se debruçar em mais essa maravilhosa obra do Mestre Stephen King.
                Já deixo minha apreciação especial aos contos: A Duna, Milha 81, Garotinho Malvado, Batman e Robin têm uma Discussão e Fogos de Artifício e Bebedeira, que são os meus favoritos do livro.
Vamos à resenha:

·                    Milha 81:
Em alguma rodovia do Maine, em uma parada de beira de estrada, já há muito abandonada, um perigo espreita! Em outra parte da cidade, um menino sente-se frustrado por não poder fazer parte do grupo de amigos do qual seu irmão mais velho participa. Em algum lugar da rodovia, um casal viaja com seus filhos pequenos. Como essas estórias vão se cruzar? No formato clássico das estórias de terror escritas por King, os personagens nos são apresentados de forma natural, fazendo com que o leitor se afeiçoe a eles, e, com a mesma naturalidade, faz com que os protagonistas se encontrem, chegando assim ao ápice do conto.
A primeira estória que abre o livro, apresenta ao leitor uma prévia do que está por vir e o estiga a viajar com o autor pelas próximas páginas que o aguarda.
 
·                    Premium Harmony
Um casamento em crise, uma pequena viagem repleta de discussões na companhia de seu cachorro de estimação. O que pode parecer uma aborrecida história cotidiana, que não atrai à primeira vista, recebe o toque mágico de King e se transforma em um incômodo conto de humor negro, repleto de reviravoltas.
 
·                    Batman e Robin Tem uma Discussão:
De todos os contos do livro, na minha modesta opinião, o mais sentimental. Nesse conto, Stephen King nos convida a almoçar com Sanderson e seu pai Pop, um senhor idoso, acometido pelo Alzheimer. Passeamos pelos meandros de uma difícil relação, onde um filho amoroso revive lembranças de infância com seu pai, que confunde os tempos e os personagens que a permeiam. Sobretudo, uma estória de amor, mas, como um bom conto de Stephen King, reviravoltas surpreendentes estão aguardando o leitor entre as linhas dessa obra.
 
·                    A Duna:
Quando o velho juiz aposentado, Harvey Beecher, resolve fazer seu testamento, chama à sua propriedade o advogado Anthony Wayland para as providências legais. Mas, não é apenas o testamento que ele deseja do advogado, também a companhia, para que ele possa contar uma fantástica história, que tem lhe acompanhado pelos mais de noventa anos vividos…
Sem sombra de dúvidas, A Duna, é minha estória favorita contida nesse livro. Com um final surpreendente, é o tipo de conto que não deixa dúvidas do porquê, Stephen King é um dos autores mais lidos e cultuados em seu gênero literário.
 
·                    Garotinho Malvado:
Estilo clássico de conto do autor. Nessa história, visitamos, junto com seu advogado, um condenado a morte em uma penitenciária norte americana. Junto com seu advogado iremos conhecer os bastidores do crime que o levaram ao corredor da morte, acompanhando a história do condenado, desde sua infância até seu desfecho. Como citei no início da matéria, é um dos meus contos favoritos do livro e poderia, facilmente, receber uma adaptação para o cinema, embora, talvez gerasse uma série de polêmicas…
 
·                    Uma Morte:
Ambientado no Velho Oeste, o conto retrata um crime e os detalhes da prisão de seu principal suspeito. Uma estória simples, porém, com um plot twist de ‘mexer com intestinos’…
 
·                    A Igreja de Ossos:
Destoando das peças anteriores do livro, trata-se de um poema escrito em formato livre, tendo como narrador um bêbado contando sua história ou estória fantástica. É uma boa obra, porém, talvez pelo formato destoante das demais, foi a que menos me prendeu durante a trajetória do livro como um todo.
 
·                    Moralidade:
Sempre presente nas obras de King, moralidade é o tipo de conto que nos convida a colocarmo-nos no papel dos protagonistas.  O conto visita um casal em uma desconfortável situação financeira e uma proposta indecorosa recebida pela protagonista. Além dos dilemas morais abordados na narrativa, também nos deparamos com causa e consequência desencadeada frente às nossas escolhas. Confesso ser um conto que me gerou uma sensação de stress, devido a situações de minha vida pessoal que por vezes se cruzaram com situações vividas por um dos protagonistas. É o tipo de conto que me pede um antiácido para ajudar na digestão.
 
·                    Vida Após a Morte:
Um conto divertido (?) sobre vida após a morte. O que acontece depois do ocaso da vida? Nesse conto, o autor brinca sobre uma possível resposta para a pergunta. Nele, acompanhamos os últimos suspiros de William Andrews, um banqueiro com câncer, que vai experimentar a experiência de ‘estar do outro lado’… É um conto despretensioso que, na minha opinião, serve mais como descontração do que como reflexão. Para quem leu A Dança da Morte, vai gostar de pescar a referência e voltar, embora que por apenas uma passada, a Hemingford, Nebrasca. Embora não seja meu conto favorito, vale à pena a leitura.
 
·                    UR:
Sim! Eu também senti uma certa conexão com A Torre Negra. É um conto bem interessante, sobretudo para quem é ‘dodói ’ por literatura. Imagine, se seu Kindle tivesse acesso não apenas a todos os livros já publicados de seus autores favoritos, mas também, obras que estes tivessem publicado em todas as possíveis realidades paralelas? É com essa realidade que o professor de inglês Wesley Smith se depara. Ao término de um relacionamento, o professor Smith encontra consolo (e talvez sua ruína) com um Kindle repleto de obras literárias e possibilidades inalcançáveis para os demais…
 
·                    Herman Wouk Ainda Está Vivo:
Duas estórias paralelas que se ligam por uma tragédia. De um lado, um casal de poetas idosos, revivendo suas paixões enquanto viajam rumo a um evento de poesia, do outro, duas amigas carregadas de traumas que resolvem empreender uma viagem, um tanto quanto conturbada, com sua tropa de filhos. Mais um conto que não possui artifícios de ficção ou sobrenatural para compor seu enredo, porém, baseia-se no possível e até banal, no cotidiano mundial. O triste bastidor de notícias que lemos semanalmente nos jornais, nos chocam, porém, são esquecidas por nós dias depois. Uma estória triste, #FicaDica!
 
·                    Indisposta:
Embora eu tenha achado o final previsível, é um excelente conto bem ao estilo Stephen King. Não quero me alongar, temendo dar spoilers, apenas recomendo MUITO a leitura. Vale, também, a referência para o refrigerante Nozzy. Quem já leu A Torre Negra ou viu The Kingdom Hospital, vai sacar…
 
·                    Blockade Billy:
Confesso que não manjo bulhufas de beisebol! Embora seja um exímio jogador de taco (bets, bet-ombro, etc… Dependendo a região do país) – ou, pelo menos me considere – gosto muito desse conto. Não sei se trata de um conto inédito nesse livro. Confesso que, enquanto lia, tinha a plena certeza de já conhecer a estória. Mesmo com essa sensação de Dejà-Vú, é um conto fantástico e muito bem fechadinho. Outro que merecia uma adaptação para o cinema ou TV.
 
·                    Mister Delícia:
Um conto necessário! Acompanhe os diálogos de dois amigos em uma casa de repouso, relembrando momentos marcantes de sua vida e os dilemas e preconceitos vividos por um homossexual em pleno o boom da AIDS, no início dos anos 1980. Uma ótima estória, muito bem redigida e bastante tocante.
 
·                    Tommy:
Também, não se trata de um conto, mas sim, de um poema escrito em homenagem a um amigo de Stephen King, falecido na década de 1960. Para preparar o leitor para essa obra (triste) vou deixar as linhas com que o próprio King abre a introdução da obra:
Existe um ditado: “Se consegue se lembrar dos anos 1960 é porque não estava lá”. Baboseira, e eis um bom exemplo. Tommy não era o nome dele, e não foi ele que morreu, mas, fora isso, foi assim que aconteceu na época em que todos nós achávamos que íamos viver para sempre e mudar o mundo.
Stephen King no prefácio de Tommy.

·                    O Pequeno Deus Verde da Agonia:
Com um tom meio autobiográfico, esse conto é resultado direto do atropelamento que quase matou Stephen King em 1999. Um conto que fala sobre física e recuperação envoltos em um tom de fantasia e ficção. Rendeu uma história em quadrinhos que está disponível no site do autor e pode ser lida clicando aqui.
 
·                    Aquele Ônibus é Outro Mundo:
Eu não sei se todo mundo tem essa mesma pira que eu, mas, sempre que vou fazer viagens de ônibus, sobretudo quando são viagens longas, para lugares distantes, gosto de observar atentamente as pessoas que estão nas rodoviárias, nos outros acentos, ou mesmo as que vejo do lado de fora de ônibus, em seus afazeres cotidianos, fazendo suas coisas comuns, em cidades onde jamais pisei com meus pés – e possivelmente, jamais pisarei – alheias ao meu olhar. Quem serão essas pessoas? Qual história existe por detrais de suas vidas? Que imagens estão registradas atrás de suas retinas? Talvez sejam pessoas que amargam a dor de um amor perdido, talvez um assassino em seu momento ‘sociável ’, um futuro presidente da república, uma dona de casa que saiu para comprar couve para a janta que jamais irá fazer, pois será atropelada antes de chegar em casa e morrerá na madrugada seguinte em hospital daquela cidade, ou da cidade vizinha, sem que jamais um de nós dois saibamos, como por um instante, um breve segundo, nossas vidas estiveram conectadas por um olhar…
Talvez um dia eu escreva um conto sobre esses meus pensamentos. Por hora, vamos acompanhar Wilson, um jovem do interior que viaja para a cidade grande para fechar o negócio que poderá mudar sua carreira, porém, preso em um engarrafamento, vê uma cena que mudará para sempre sua vida. Um bom conto, que vale muito à pena a leitura.
 
·                    Obituários:
E se você pudesse decidir quem vai morrer e como? Se você possuísse o poder de escrever um obituário e visse-o tornar realidade? Esse é o estranho poder que Mike descobre ter. E, como diria tio Bem: Com grandes poderes surgem grandes responsabilidades… Mike vai descobrir que nem tudo são flores nesse velório…
 
·                    Fogos de Artifício e Bebedeira:
Um lago em um vilarejo pacato no Mane. Uma cabana, onde mãe e filho costumam passar seus finais de semana jogando tempo fora e enchendo a cara. Some isso a turistas de 04 de julho e competições de fogos de artifício e temos a receita perfeita para todo o sem fim de confusões que esse conto vai descrever.
 
·                    Trovão de Verão:
Em um futuro após explosões nucleares, dois amigos e um cão tentam sobreviver a nova realidade de um mundo onde até o ar pode ser um poderoso e mortal inimigo. Um conto bem estruturado, que nos leva a refletirmos sobre a fragilidade da natureza humana e quão efêmeros somos.

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